Micael Narrando
Eu realmente ODEIO. Odeio quando a gente se desentende, odeio quando o instinto fala mais que o coração, odeio simplesmente o fato de vê-la chorar em minha frente, e odeio mais do que todas as coisas ver ela com outra pessoa. Eu confio, sim, confio cegamente no nosso amor, mas tenho medo do que possa acontecer no minuto seguinte, isso deve ser normal, o medo de perder deve ser comum, a gente nunca perde o que é nosso, isso é fato, mas todos estamos cansados de saber o quanto o destino é cruel, vai que numa hora dessas ele resolve se revoltar contra mim ? Não é desconfiança,  mas o ser humano nunca vai viver completamente sem medo, uma parte dele é amor, a outra é medo, medo de perder a pessoa que mais ama no mundo, e hoje eu entendo, essa é a pior das dores.
Agora eu estava ali, parado em sua frente, completamente inerte ao ouvir o que ela tinha dito. Sophia gostava de brincar, mais seu rosto não mostrava que era uma brincadeira, vi um pouco de verdade no que tinha dito, só não sabia o que queria dizer. Então me aproximei e perguntei mais uma vez :
-A gente Sophia ? O que esta falando ?
-Meu amor, eu te amo… – foi apenas o que ela disse e depois me puxou para um beijo, estava sem entender nada, mas correspondi ao beijo mesmo assim, nossas línguas dançavam uma com a outra, ficamos assim por alguns minutos, até que o ar faltou e ela me soltou me olhando firme nos olhos e sorrindo – Não gosto quando fica com ciúmes !
-Será que dá pra entender que esse ciúme exagerado é amor e que todas essas minhas crises são puro medo de te perder ?
-Por que medo ? Eu vou estar com você pra sempre, e agora mais do que nunca.
-Sophia, você esta me escondendo algumas coisa ?
-Amor – ela se afastou – Lembra-se do que falei mais cedo ? Que tinha algo pra falar ?
-Sim, me lembro – suspirei – Você falou, falou, e não chegava a lugar nenhum.
-Pois é…- ela sorriu – vem comigo ?
Ela perguntou, e estendendo a mão segurou na minha firme, me olhou mais uma vez e soltou mais um sorriso lindo, e dessa forma fomos para o quarto, nos sentamos e eu não aguentei olhar para ela e ficar sem fazer nada, era incrível, estava mais bonita do que o normal, o que me fez puxá-la para mais um beijo impedindo que houvesse palavras. Eu estava em cima dela, e beijava toda a extensão de seu corpo, minhas mãos passeavam sobre sua pele macia, enquanto ela mantinha as suas agarradas ao meu cabelo, estávamos puro amor, fogo, e paixão, nada mais existia, as horas que passamos “discutindo” não fazia mais diferença e eu nem queria saber o porque aquele crápula estava ali com ela, seu corpo me dizia quem ela me amava, e eu sempre sorria ao ver que era meu nome que ele “chamava”.
Ficamos por alguns minutos assim, juntos, em trocas de olhares, sorrisos, beijos, até que eu me lembrei do real motivo que nos levou até ali, ela tinha algo pra me contar e eu queria ouvir, então me levantei de forma que ficasse ajoelhado na cama, e a puxei para que ficasse na mesma posição:
-Amor, você não tem que me falar algo ?
-Ahh sim – ela disse como se tivesse se lembrando – Não é nada de mais, quer dizer, não sei.
-Sophia, você esta nesse assunto desde manhã, vai me contar por bem ou por mal – disse brincando.
-Ok…eu conto – ela disse sem graça e desceu da cama abaixando-se e pegando para si uma caixa, e desse jeito ela voltou de forma que ficasse em minha frente de joelhos. E assim estávamos nós, ajoelhados na cama, um de frente para outro esperando sei lá o que, o que me deixou muito preocupado.
-Uma caixa ?
-Amor, antes de abrir eu quero te contar uma coisa – ela suspirou tentando não chorar – Você se lembra de quando eu fui embora naquela manhã te deixando sozinho na cama e indo para o convento ?
-Sim, eu me lembro – respondi lembrando-se da dor que senti naquele momento.
-Então, junto com a caixa eu deixei os meus comprimidos como prova de que eu seria fiel, e depois disso eu parti e…
-Sophia, eu não to conseguindo entender – disse atordoado.
-Meu amor, você se lembra do que me pediu aquela noite que ficamos juntos pela última vez ?
-Sim, eu  lembro – suspirei um momento – Te pedi um filho.
-Isso mesmo, você me pediu um filho e naquele momento eu me senti tão feliz e ao mesmo tempo mal…Feliz por você ter me escolhido e mal porque esse era seu sonho e eu não podia dar naquele momento e …
-Amor, já conversamos sobre isso, tudo vai acontecer no tempo certo e …
-Mica – ela interrompeu – A gente ficou separado muito tempo, mas eu fui atrás de você e tenho certeza que você sabe o que fizemos quando nos encontramos. Você estava bravo comigo e eu queria te matar por ver você com a Aline, mas você teve outra ação, me levou para o seu apartamento e…
-E a gente passou as melhores horas de nossas vidas ali dentro. Nunca tinha visto você com tanta “sede” sabe, no começo achei que te amarrar ia ser fria, achei que estava indo longe demais, mas não, você respondeu a tudo que eu pensava…
-Você pensou que eu estava esperando um filho do Fábio – ela sorriu fraco.
-Sim, e naquele momento desejei morrer. Nunca senti coisa igual. Doeu só em cogitar você e ele se amando…Eu olhava pra sua barriga e ficava indignado, tentando entender porque a vida tinha dado um filho seu a ele e não a mim….
-Eu sei meu amor – ela dizia alisando meu rosto – Mas aquilo já passou, eu nunca mais vou te deixar, e não quero ficar grávida outra pessoa a não ser você – disse rindo.
-Eu já disse que te amo hoje ?
 -Não…- ela abaixou a cabeça – Mas acho que pode você pode esperar…
 -Ahhh é ? E por que devo esperar ?
 -Por que a gente tem que abrir a caixa se lembra?
 -É verdade…mas você tava me fazendo lembrar do passado, e o que isso tem haver com o que tem ai dentro ?
 -Tudo ! – ela arrumou a blusa – Amor, a gente ficou junto naquela noite, e eu não tomava os comprimidos, e se passaram mais ou menos dois meses e é claro, tenho me sentindo mal nesses últimos dias…
-Sophia…- me estiquei apavorado- Você ta querendo me dizer que ….
-Não sei Amor…- ela abaixou a cabeça – A resposta ta aqui dentro, não tive coragem de olhar sozinha, preciso de você ao meu lado entende ?
-Claro que entendo – disse abrindo um largo sorriso – Então vamos abrir juntos ?
-Sim – ela respirou findo segurando as lágrimas – Mas antes, quero que saiba que eu te amo, e independente do resultado a gente vai ficar bem.
-Sim meu amor, independente da resposta nós vamos ficar bem, sabendo que há sempre um outro dia, uma nova chance – disse beijando seu rosto
-Vamos abrir no três então – ela disse sorrindo e escondendo seu medo.
-Um …- comecei a contar e meu coração pulsava a uma velocidade que eu nem pensei que podia atingir, minhas mãos soavam e eu queria sorrir, mas me contive ao pensar que aquela era uma hipótese…Mas não sei porquê, lá no fundo eu sentia que já sabia o resultado.
-Dois… – Sophia disse baixo
-Três – nós dois dissemos em um único tempo e abrimos a caixa.
 
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