Sophia Narrando
Descobri que há mil formas de morrer. Algumas pessoas morrem por
doença, por acidentes, outras ainda, sem nenhuma explicação. E há aquelas que
morrem de um jeito horrível, morrem da alma, e essa é pior das mortes, Porque
ela tira todos os seus sentidos e alegrias, te leva para um buraco sem fim. Eu
morri. Meu coração ainda faz o sacrifício de bater, mas nada mais importa
agora. Às vezes bate uma vontade de pegar um voo para o espaço e lá permanecer,
dá vontade de fazer nada, só dormir. Dormir porque o mundo dos sonhos é melhor,
afinal lá meus desejos valem de algo, dormir porque não há tormentos enquanto
sonho, e eu posso tornar tudo realidade. Quando acordo, vejo que meus sonhos
não passam disso, sonhos. E assim a cada dia começo : desejando viver no
mundo dos sonhos, ou transformar meu mundo real num lugar que eu possa viver,
não sobreviver.
Lá estava eu, encolhida na cama afundada em rios de lágrimas.
Como é possível a vida mudar assim tão depressa ? Como é possível sorrir
em um dia e chorar amargamente no outro ? O bem e o mal caminham juntos, a
alegria e a tristeza são eternas amigas, quando uma vem à outra chega junto.
Por que essas mudanças cruéis ? Por que as coisas não permanecem
intactas ? Por que não podemos ser felizes e viver sem nenhuma
preocupação ? Essas perguntas rondavam minha mente. Já fazia mais de três
horas que eu estava trancada no quarto. Eu escolhi ficar sozinha, Micael não
gostou muito da ideia, mas eu precisava de uns minutos com meus pensamentos e
com minha dor… Agora, deitada na cama podia sentir o peso que carregava em meus
ombros… Um filme passara em minha cabeça, me lembrei de toda a minha
trajetória, desde que cheguei ao Rio, até o presente momento. Lembrei-me
daquela manhã que acordei triste por ter que mudar de cidade; lembrei-me
do quanto relutei ao entrar no apartamento que seria minha morada, e lembro-me
o quanto fiquei irritada ao encontrar Micael no mercado. Fechei os olhos e pude
sentir na pele o prazer que tive quando fiquei com ele pela primeira vez,
sensações únicas que minha memória jamais me deixaria esquecer….
Flashback
-Quantos filhos vamos ter ? – Micael perguntava enquanto
acariciava seu corpo ainda nu pela noite anterior.
- Dois . Um Lindo casal.
-Só dois ? Que horror – ele questionava.
-Ta achando muito ?
-Claro que não. Estou achando pouco, isso sim.
-E você quer ter quantos ?
-Bom, antes de te conhecer eu queria quatro. Mas depois que te
conheci meu desejo dobrou sabe – ele sorriu safado – Então, agora quero
oito !
-Oito ? –perguntava assustada.
-Podemos acrescentar mais alguns o que acha ? Oito filhos
planejados e quatro de surpresa sabe …
-Você só pode estar brincando. A casa cheia de crianças vai nos
impedir de namorar, nunca pensou nisso ?
-Claro que pensei ! E eu tive um ideia – ele sorriu –
Metade fica com meus pais e a outra metade com os seus pais o que acha ? E
aí a gente vai ter tempo pra ficar junto.
-(risos) Você esta louco ! Eu não conseguiria ter oito
filhos !
-Eu te ajudaria amor…- ele beijou seu ombro – Você será uma
ótima mãe, e eu ficaria babando em nossos filhos.
-Você vai ser o papai mais babão do mundo.
-Claro que vou ser…. – sorriu – Só de pensar que eles terão seus
traços já me deixa assim, todo bobo.
-Eu te amo – ela disse enfim.
-Eu te amo mais. Muito mais !
Fim de Flashback
Aqueles momentos, aquelas lembranças ficariam em meu coração
para sempre. E elas me fizeram chorar. E quanto mais as lágrimas desciam, mais
a voz do médico ecoava em minha mente. O que eu fiz para merecer tal
castigo ? Olhei lentamente para a minha barriga e me descontrolei. Como
aquilo poderia ser mentira ou fruto da minha imaginação ? Eu senti que estava
grávida, senti da maneira mais incrível possível… As respostas eram confusas em
minha mente, e enquanto eu acariciava meu ventre que agora estava “vazio” eu me
lembrei da última coisa que tinha ouvido naquele consultório, e foi nesse
momento que eu desejei morrer, literalmente. Eu não podia mais ter filhos,
nunca mais, e isso estava me matando aos poucos. Lembrei-me de Micael, o quanto
ele queria ser pai, e agora eu estava impossibilitada de realizar esse nosso
sonho…. Como conviver com essa dura realidade ? Como passar os próximos
anos sabendo que nunca mais geraria uma criança dentro de mim ? Não é
exagero, mas isso tinha mexido comigo, a essa altura eu já me encontrava jogada
no chão, minha respiração estava falha e sentia uma enorme dor no peito, não
estava nada bem…Mas mesmo sem forças me levantei e comecei a fazer uma coisa
que deveria ter feito a muito tempo…. A vida te da pistas, ela te mostra quando
é a hora de desistir, o problema é que a gente nunca escuta, batemos o pé e
continuamos a caminhar quando já é a hora de desacreditar…Tudo o que estava
acontecendo comigo era por causa de minha teimosia. Se eu tivesse desistido no
começo tudo estaria bem. Está na hora de eu ouvir mais, e parar de querer
consertar as coisas, não adianta querer ajudar o destino, ou da um jeitinho no
futuro, quando não é pra ser, suas forças e esforços são tolos.
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