Micael Narrando
O dia hoje fora longo demais. Passei a manhã toda e o começo da tarde arrumando nossa casa. Fiz Sophia prometer que ficaria longe de lá até o casamento, e ela, apesar de muito curiosa, manteve a promessa e ficou longe o tempo todo. Hoje foram os últimos detalhes, sofá, cama, cozinha completa, berços e afins. Confesso que foi maravilhoso fazer isso sozinho, sinto que estou fazendo algo bom que minha mulher irá se orgulhar. A verdade, é que estou ansioso pra ver a sua reação quando ela notar que o quarto dos nossos pequenos estão “prontos”. Prometi que não decoraria nada sem ela, mas a vontade foi tão grande que eu precisei começar a arrumar, mas é claro, ainda tem muita coisa esperando por ela, pelo toque de mulher e mãe que só Sophia pode dar.
Enquanto eu montava os berços fiquei pensando o quanto seríamos extremamente felizes naquela casa. Cada canto dela seria nosso, cada lugar seria criado uma história, nosso amor agora teria casa, teria registro, e passaria de geração à geração, era o que o quarto dos meus filhos diziam, cada berço colocado ali dizia que cada um deles representava o fruto do nosso amor, e através deles todo mundo saberia que “tudo pode mudar do dia pra noite…” porque foi isso que vivemos todos esses anos, todas as reviravoltas, os momentos bons e tristes faziam-me entender que a mudança é constante, e não importa o que duas pessoas fazem de suas vidas, não importa o quão magoados estejam, o quão distantes se encontram, quando é pra ser não adianta, acontece agora, daqui a um ano, ou daqui a cinquenta anos.
Enquanto arrumava minhas coisas e fechava a casa, a campainha soou. Levei um susto, pois não esperava ninguém, todas as encomendas tinham sido entregues, os móveis também, então quem poderia estar na porta? Levantei correndo e olhei pela janela, lá no quintal, perto do nosso jardim, havia um casal em pé. Então saí de casa e fui até eles.
-Pois não, posso ajuda-los em alguma coisa? – Perguntei
-Desculpe o incômodo, eu e minha mulher moramos aqui em frente e vimos que tinham comprado a casa, e ao saber que vão estar se mudando amanhã gostaríamos de dar as boas vindas – Respondeu sorrindo, um homem alto e forte, que aparentava ter trinta anos.
-Ah claro, compramos a casa a um bom tempo mesmo…- respondi
-Fizeram uma boa reforma nela, gostei muito do jardim e da cor que escolheram, sua mulher tem um ótimo gosto – Respondeu a mulher, ela era um pouco mais baixa, cabelos curtos e vermelhos.
-Muito Obrigada, a casa estava mal cuidada mesmo, tive um trabalho duro. Mas minha mulher não sabe como ela esta ainda, é uma surpresa de casamento – respondi sorrindo.
-Nossa que legal, estou ansiosa para conhecê-la – ela respondeu – Seremos vizinhos por um bom tempo, é bom ficarmos amigos.
-Sem duvidas – respondi
-Também amei os brinquedos do jardim, o balanço, a casa na árvore…Tem filhos ?
-Vamos ter – disse sorrindo – Teremos três crianças lindas daqui a alguns meses.
-Nossa – eles responderam juntos
-Bom, se me permitem preciso voltar para minha noiva, sabe como são as mulheres né?
-Ah claro – respondeu o homem – Seja bem vindo e até amanhã
-Prazer em conhece-los – estendi a mão
-O prazer é todo nosso Micael, todo nosso – o homem respondeu sorrindo e eu entrei em casa para pegar o que faltava e fui para a casa dos meus sogros.
***
Agora eu já estava na casa dos pais de Sophia, tinha chegado a pouco e subi correndo, sem ser percebido, para o quarto de Sophia. Precisava dizer a ela o quanto nossa casa estava encantadora, precisava confessar que aquele lugar estava lindo demais, e também precisava matar a saudade, porque eu nem fazia ideia da última vez que a tinha beijado ou simplesmente a tocado. Para minha surpresa encontrei o quarto vazio, então entendi que talvez ela pudesse estar no jardim ou até com as meninas, só que também me enganei, ela não estava em nenhum lugar, o que me preocupou, até que consegui encontrar Maria:
-Oi Maria, você viu a Sophia ?
-Ah Sr. Micael, ela não vai voltar hoje.
-Como assim não volta? Ela saiu ?
-Sim. Quer dizer, foi obrigada a sair, sabe como é a Dona Sophia.
-Não to conseguindo entender, dá pra ser mais clara…
-Ela foi para um Hotel. A regra, é que a noiva não veja o noivo um dia antes do casamento e nem no dia, apenas no momento da cerimônia.
-Você deve ta brincando comigo? – disse surpreso – Vocês a levaram assim, do nada, sem me comunicar? E que regra idiota é essa?
-Foi decisão dos pais dela, o Sr. Renato e Sra. Branca decidiram que seria melhor assim.
-E eu não decido nada é isso ? – Falei nervoso- Me desculpe Maria, sei que você não tem culpa de nada, mas estou há muito tempo sem a ver, e hoje é o nosso último dia como solteiros, queria aproveitar sabe, ficar um pouco junto, e ainda tem os nossos filhos, eles precisam de mim, Sophia não pode ficar sozinha e também tem…
-Calma Micael – ela disse sorrindo – Eu já entendi, você tem muita preocupação com a menina Sophia, e ta certo…Só que não poderei te ajudar, foi decisão superior sabe…
-Mas em que Hotel ela esta?
-Não sei dizer, me parece que é o da Rua principal…
-Muito obrigada Maria - disse e fui subindo as escadas
-Sr. Micael ? – ela disse e eu virei em sua direção – Promete que vai cuidar da nossa menina?
-É claro que vou, viverei pra isso – respondi sorrindo e saí para o meu quarto.
Cheguei no meu quarto um tanto quanto furioso, os pais de Sophia eram adoráveis, disso não tinha dúvidas, mas manda-la para um Hotel um dia antes de nos casarmos parecia uma loucura não? E pior de tudo é que eles não se encontravam em casa, estavam resolvendo sei lá o que, enquanto minha mulher estava sozinha para passar a noite. Conhecendo Sophia muito bem, pergunto-me porque ela aceitou isso, do jeito que minha mulher é nervosa, deveria ter feito um drama daqueles, mas não, parece que ela aceitou…Foram nesses pensamentos que deitei na cama, tentando relaxar um pouco, e vi que tinha um bilhete com a letra de Sophia:
“Meu amor, Eu tive que sair, contra minha vontade. To obedecendo a uma “regra” sabe, dizem que isso trará sorte ao nosso casamento, e eu decidi realizar porque não quero azar no nosso dia tão especial, já passamos por muita coisa, e quero que amanhã seja perfeito, pois desenvolvi certo “trauma” por casamentos sabe, e quero toda a sorte do mundo pra gente e para os nossos pequenos. Ah, só pra constar, eu devo ta ficando louca, mas eu juro que senti uns chutes gostosos aqui na minha barriga enquanto escrevo essa carta, esses três te amam demais, estou sorrindo feito boba, e feliz da vida por amanhã começar a nossa tão sonhada eternidade juntos. Eu to nervosa também, mas sei que tudo vai ser maravilhoso, por favor não desista do casamento, e quando eu entrar, me encare nos olhos e logo depois para os nossos filhos, queremos você nos olhando amanhã. A realidade é que vim nesse Hotel só pra cumprir o protocolo mesmo, porque sorte mesmo é ter você meu amor. Um beijo da sua futura mulher, e dos seus três filhos, que fazem da minha barriga um parque de diversão.
Te amamos, não é mesmo crianças ?
Eles disseram que sim”
Li aquilo e um sorriso brotou em meus lábios. A cada linha escrita eu tinha tanta certeza do meu amor e da nossa felicidade, que chegava a ser engraçado. Como eu amava aquela mulher, e como o dia seguinte seria o mais feliz de nossas vidas, eu tinha certeza. Mas eu não podia ficar aqui, não tendo a mãe dos meus filhos tão longe de mim.
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