CAP. 238—— 2 TEMPORADA -PONTO FRACO: TUDO PODE MUDAR DO DIA PRA NOITE

 

      Sophia Narrando                                                                       

       Vez ou outra eu me pego pensando em Romeu e Julieta e nas coisas que infelizmente eles não viveram. Eles nunca puderam andar de mãos dadas nas ruas de sua cidade, nunca puderam assistir a um espetáculo abraçados, ou comer num restaurante popular brincando com a comida um do outro, eles viviam se escondendo, pois amar um ao outro era como assinar uma sentença irrecorrível de morte. Mas a parte mais triste disso é que eles nunca puderam ver o amor deles se multiplicar, sair do peito e dar lugar a um ser incrível e lindo como um filho. E eles nunca irão sentir o que é ter em seu colo alguém tão pequeno e perfeito capaz de fazê-los morrerem novamente, caso fosse preciso.                                                 

        De todas as dores que alguém pode carregar, a pior é a de não viver os momentos de felicidade com alguém que se ama. Imagina amar alguém e não estar junto? Perder alguém que você nunca imaginou viver sem? Imagina sair desse mundo sem viver? Eu queria que ao final da história eles tivessem planejado uma fuga ao invés da morte, um fuga pra longe de todos aqueles que os detestavam. Eu queria que eles tivessem mais tempo juntos, mais tardes de verão, mais noites abraçados, mais dias felizes. Eu queria que eles tivessem filhos, colecionado momentos, e que seus cabelos esbranquiçassem juntos. Eu queria que a morte tivesse chegado só depois do: “felizes para sempre”, quando as suas peles estivessem enrugadas. Eu queria muito mais do que eles tiveram. É por isso que eu faço questão de viver na totalidade, amando muito o homem da minha vida, e meus filhos que acabaram de chegar, eu faço isso por todos aqueles que não puderam ficar com o “amor de sua vida”.
 
       Agora eu estou com meus filhos nos braços: duas princesas, e um príncipe reinando junto. Não sei descrever o que sinto nesse momento, é tanta felicidade que custo a acreditar que alguém possa ser feliz nessa proporção, eu nunca havia experimentado tal sensação, é um momento único. Tento segurar as lágrimas, mas elas rolam instantaneamente, sei que devo estar fisicamente horrível, mas essa é a primeira vez que não me importo com minha aparência, isso não me pertence mais.

         Aconcheguei meus filhos tentando decorar o rostinho de cada um deles, analisando cada extensão de seus corpos, mas fui impedida pelos enfermeiros que precisavam levá-los para os procedimentos normais de recém nascidos. Resmunguei um pouco, mas Micael (como sempre) me convenceu a deixá-los em mãos de profissionais pois inspiravam cuidados naqueles primeiros instantes de vida.                        

        Depois de muito custo os liberei, três enfermeiros se aproximaram para pegá-los, e naquele momento senti um arrepio estranho. O terceiro enfermeiro se aproximou, encarou Micael e saiu acompanhado dos demais, e naquele momento eu senti minha respiração falhar, meus olhos ficaram marejados de puro medo, e senti tudo “rodar”. Ele estava de máscara, mas eu o conhecia de algum lugar, tinha certeza:

-Amor - sussurrei sem forças

-Soph, você esta bem?

-O enfermeiro....- disse fraca - Aquele enfermeiro, eu o conheço.

-Sophia você acabou de passar por uma...

-Micael - interrompi -vá atrás dele - disse sentindo meu corpo falhar.

-Eu vou chamar os médicos, você não esta bem - ele estava aflito.

-Nossos filhos... - fui fechando meus olhos lentamente, porém minha mente ainda estava consciente, e foi nesse instante que Micael sussurrou algo aos meus ouvidos que me apavorou.

-Os médicos estão vindo meu amor, vai ficar tudo bem. O acordo diz que ele nunca encostará em você ou nos nosso filhos, quanto mim, eu já disse que se fosse preciso, eu morreria para salvá-los.

Aquilo foi a última coisa que consegui ouvir, antes que desfalecesse.