Micael Narrando
Já amou tanto alguém na vida, que a
ideia de pensar em ficar sem essa pessoa te causa medo ? Eu acho que o amor é
isso, é a vontade exagerada de ter alguém até o fim da vida, e o medo absurdo
de talvez não conseguir chegar ao fim.
Eu havia me atrasado, isso era fato,
e eu sabia que sofreria uma “leve” punição por isso, umas broncas, discussões,
uma birra aqui, outra ali, e depois resolveria tudo. Mas Sophia era uma caixa
de surpresas, não dava pra levar as coisas iguais com ela, eu deveria saber
disso.
A esta hora, estava eu, na porta do
quarto dos nossos filhos, implorando pra Sophia abrir. Ela estava irredutível, e
nada que eu falasse era capaz de convencê-la :
-Amor, por favor, não estrague tudo o
que estávamos vivendo – dizia
-Você já estragou Micael, não coloque
a culpa em mim – ela respondia do outro lado.
-Por que é tão difícil de acreditar
que eu estava ocupado?
-Ocupado com o que? Eu liguei para o
meu pai, e ele disse que não tinha nada hoje.
-A reunião de hoje não teve nada a
ver com o Sr. Renato..
-Se realmente era uma reunião, então
prove. Ligue pra algum sócio seu que estava lá...
-Eu não vou fazer amor – explicava –
O que eles vão achar de mim ?
-Vão achar que você é um mentiroso,
que precisa de álibi para se “safar” das suas escapadas.
-Escapadas Sophia ? Nós temos meses
de casamento, pra que eu precisaria disso?
-Então se fosse um tempo maior, você
faria ?
-Claro que não – respirei fundo- Eu
amo você, e não preciso de mais ninguém comigo.
-Mentira – ela gritou
-Meu amor, por favor, abre essa porta
e não se exalte, pense nos nossos filhos.
-Se não fosse eles, eu já estaria bem
longe dessa casa.
-Amor – disse baixo – Estamos iguais
ao dia que nos casamos lembra ?
-Não tente tirar minha atenção pra
escapar de uma briga.
-Você estava no hotel, pra não correr
o risco de eu te ver e dar azar pro nosso casamento.
-Nem precisava disso...já estamos com
azar...
-Soph, não fala isso – me sentei
encostando na porta – Você é a maior sorte de toda minha vida – Fechei os olhos
– Você estava do outro lado da porta, como está agora, mas eu sabia que no
outro dia você seria minha, e ficaria pra sempre comigo, então por favor,
cumpra a nossa promessa, abra essa porta e deixa eu ficar com você, se não for
pra sempre, que seja apenas por hora, só faça isso...Se quiser se afastar de
mim amanhã, ou depois, eu deixo, mas hoje, só quero que fique comigo.
Um silêncio se formou, e por um
momento eu achei que teria que deixar Sophia sozinha, no canto dela, e voltar a
procura-la quando estivesse mais calma. Engano meu, pois sem demora, ouvi o
barulho do trinco, e a porta se abrindo, sorri aliviado.
Levantei-me do chão, entrei no quarto
e fechei a porta novamente. Ela estava com os olhos vermelhos, porém linda,
como sempre. Custei-me a me aproximar, mas com muito esforço cheguei perto do
seu corpo:
-Eu amo você branquinha, e não faria
nada pra te magoar, acredite.
-Por que demorou Micael ?– ela disse
com a cabeça baixa - Eu fiquei pensando coisas horríveis.
-Shiuuu- coloquei o dedo em seus lábios
– Não diga isso...Eu nunca faria uma coisas dessas com você.
-Como posso confiar nisso?
-Eu te amo – disse rápido e me
aproximei dos seus lábios – São teus lábios que eu desejo beijar, é o seu corpo
que eu desejo todas as noites comigo, e sua presença é a única que quero ter
enquanto eu viver, então me responda, achas mesmo que eu ficaria com outra
pessoa?
-Eu não sou mais desejável,
certamente outras pessoas podem te atrair com mais facilidade.
-Não é desejável ? – ri com tal
especulação – Ah Soph, se você soubesse o quanto te desejo, o quanto penso em
você durante o meu dia, o quanto meu corpo se contrai quando lembro do seu
toque – respirei fundo – Seu toque...
-O que tem meu toque ? – ela perguntou
-Seu toque é ... –disse e segurei em
sua cintura – É a coisa mais incrível. Me desperta de uma vida normal e me leva
pra uma outra dimensão...Sophia, se você não é desejável, ninguém mais é.
-Mica...- ela sussurrou
-Ah Soph, se você soubesse o quanto
estou te desejando nesse momento – disse e fechei os olhos – Eu preciso me controlar
pra não te fazer minha aqui mesmo.
-Mica eu...
-Não precisa dizer nada – disse
encostando nossas testas.
-Eu te amo – ela disse sorrindo – E por
mais que uma parte minha queira te beijar nesse momento, existe outra me trazendo
pra vida real e me mostrando que talvez eu esteja certa sobre minhas
especulações...
-Deixe a parte que me ama prevalecer.
Pois eu juro que tudo que disse foi verdade. Eu não preciso de outra Sophia,
não mesmo, eu tenho tudo o que eu quero bem aqui na minha frente.
-Me deseja mesmo depois de tantas
mudanças? – ela perguntou tímida.
-Te desejo igual no dia da nossa
primeira vez – disse sorrindo – Aquele mesma vontade que me invadia naquele
dia, continua a me invadir – sussurrei.
-Amor...- ela dizia com os olhos
fechados. Fiquei feliz por ouvir ela me chamar daquela maneira.
-Eu te amo – disse beijando seu
pescoço – Te desejo - continuei a beijar – e te desejarei todos os dias. Eu só
peço que deixe a raiva de lado, pelo menos hoje. Se quiser brigar comigo
amanhã, e me deixar afastado eu vou entender. Mas hoje eu só quero ficar do seu
lado e aproveitar contigo...
-Então me diz ....- ela se afastou –
onde você estava ?
Eu não acreditava que Sophia
continuava a insistir sobre o assunto. Às vezes ela conseguia me tirar do
sério, pois eu a amava, e isso deveria bastar.
-Eu já disse onde estava...mas parece
que você está desconfiada demais, ao ponto de duvidar de mim, e do nosso amor.
Eu não posso fazer você confiar em mim, isso você precisa fazer sozinha –
respondi e saí, deixando ela sozinha no quarto dos nossos filhos. Eu queria
resolver nossa situação, terminar aquela noite bem, porém Sophia não parecia
estar disposta ao mesmo, e eu não queria ficar ali assistindo seu olhar de dúvida,
enquanto o que havia em mim era a verdade. Então fui para o nosso quarto, na esperança de
algo melhorar. A realidade é que não tinha muito tempo, e eu só queria mais uma
noite.
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