Micael Narrando
Já era tarde. E eu estava impaciente na casa da minha mãe. Tinha acabado de jantar e uma sensação horrível me consumia por dentro. Não podia ficar mais um minuto ali dentro, minha vontade era de ir buscar Sophia. Imagina quantos homens a desejaram essa noite? Imagina quantos deles fizeram fantasias? Não, isso não podia acontecer… Fugi de meus pensamentos, e fui para a varanda “tomar um ar”, foi nesse instante que meu celular vibrou e eu pude ver várias ligações perdidas, quem poderia ter me ligado com tanta insistência? Assustei-me quando percebi que as ligações eram de Mel, Lua, e Arthur. Quando vi seus nomes na tela senti medo, puro medo. Nem tive força para retornar, apenas saí em disparada para meu carro, sem nem ao menos me despedir da minha mãe. Dei partida e corri o máximo que podia, no caminho tentei várias vezes ligar para uma das meninas, mas não tive sucesso. Meu sangue fervia em contrapartida, não conseguia raciocinar direto, só sussurrava para mim mesmo o quanto fora idiota ao ter deixado-a sozinha. Alguma coisa tinha acontecido, eu sabia, eu sentia.
Quando cheguei à rua do salão percebi que várias viaturas de policia se encontravam no local juntamente com o corpo de bombeiros, foi nesse momento que tremi por inteiro. Uma multidão se encontrava no local, percebi que algumas pessoas estavam caídas no chão e outras apenas sendo medicadas. Parei o carro e corri imediatamente em busca de informações, mas ninguém sabia dizer o que aconteceu, o máximo que falavam era que algo havia explodido perto da pista de dança e só. Andava de um lado para o outro buscando o rosto de Sophia, mas todo esforço era em vão… Quando finalmente ouço Lua me chamar:
-Mica…Micael - ela dizia vindo em minha direção com Arthur a ajudando.
-Cadê Sophia Lua….Cadê ela ? – disse nervoso
-Eu não sei – dizia em prantos – Foi tudo muito rápido.
-Eu a quero Lua, você não ta me entendendo?
-Ela estava com a gente, tava tudo bem, ela passou mal e resolveu se sentar, depois recebemos um bilhete e pronto tudo pegou fogo, do nada.
-Eu to pouco me lixando como foi que aconteceu. Eu quero Sophia, aqui e agora….
-Me desculpa Mica. Eu juro que tentei impedir, mas eles a levaram…
-O QUE ? ELES QUEM? LEVARAM PRA ONDE?
-Seu filho Micael…eles queriam seu filho e levaram Sophia embora.
-QUE DROGA – Disse furioso – VOCÊ PROMETEU QUE IA CUIDAR DELA LEMBRA? MAS NÃO O FEZ. EU QUERO ELA LUA, QUERO SOPHIA E MEU FILHO BEM, SE ISSO NÃO ACONTECER NÃO SE CONSIDERE MINHA AMIGA. SE ALGO TIVER ACONTECIDO EU JURO QUE FAÇO O MUNDO CAIR OUVIU?
-Micael ela não teve culpa, pega leve. Foi um acidente – Arthur me segurava.
-Quando ela estiver do meu lado novamente eu procuro vocês, caso contrário me esqueçam. Agora eu vou procurar Sophia.
Dali em diante nada mais importava. Eu invadi os destroços e fui atrás da Sophia. Vasculhei cada lugar, mas não tive sucesso em nada. Avisei os policiais e todos começaram a busca, de acordo com os relatos de Mel ele não tinha ido pra longe, esse incêndio fora planejado, e o lugar por onde ele havia saído só dava a uma entrada: Uma casa escondida entre os arbustos e era pra lá que a gente ia. Eu estava exausto, mas incansável, nada me tiraria Sophia, estávamos perto do final da nossa história e isso seria apenas mais um episódio para nos lembrar na nossa velhice, tudo acabaria bem, eu sentia, ou apenas queria.
* * * * *
Sophia Narrando
Eu estava em uma cadeira, amarrada, completamente imóvel vendo dois caras com capuz em minha frente, e em suas mãos tinham seringas contendo algum líquido, o que me deixava nervosa. Eles andavam de um lado para o outro, e mexiam no celular de minuto a minuto. Com certeza eram empregados de alguém, mas de quem seria? Eu não sabia mais no que pensar, minha mente se mantinha paralisada em Micael e no nosso filho, eu estava com muito medo, e a única coisa que pedia no momento era ele me abraçando como sempre fez, o que eu queria era estar em seus braços, pois com ele eu me sentia segura, a salva. Tentei conter as lágrimas que insistiam saltar do meu rosto, mas era praticamente impossível, foi nesse momento que eles se aproximaram do meu braço e começaram a colocar um pequeno elástico de borracha nele:
-Pare de chorar, não vai doer… – o rapaz dizia.
-O que é isso? Que líquido é esse?
-Digamos que algumas pessoas não querem que seu filho nasça então estamos cuidando para que esses desejos sejam atendidos.
-Isso vai matar meu filho? – Perguntei assustada enquanto ele passava o álcool em meu braço.
-Sim, não é fantástico? É uma técnica infalível, e nem vai doer. Dentre instantes você não terá mais esse “ser” dentro de você.
-Não, por favor – puxei meu braço – Não faça isso comigo, deixe meu filho longe dessa…Eu faço o que vocês quiserem, eu faço de tudo, mas poupe a vida dele, por favor – dizia em prantos.
-Sinto muito, mas temos ordens, e nosso dever é cumprir…
-Não, isso é demais pra mim. Não podem fazer isso. Será que tem noção da importância dele pra mim ?
-É apenas um feto, mal formado, sem sentimentos, é praticamente um bicho ainda. Ele mal cresceu, e você pode ter outros filhos futuramente.
-NÃO. EU QUERO ESSE – me contorcia na cadeira – Eu imploro, me submeto a qualquer coisa…Mas deixe ele dentro de mim.
-Ouviu isso mano? – o outro rapaz de canto na parede perguntava – Ela faz de “tudo”, podemos tirar proveito disso o que acha?
-E o nosso chefe ? – ele perguntava
-Inventamos uma desculpa esfarrapada. A coitada só quer ter esse filho.
-Bem, pensando por esse lado – o outro homem respondia – Você faz de tudo mesmo?
-Sim, se pouparem a vida do meu filho eu faço tudo para agradecer…
-Então, pode começar – Eles responderam juntos – Comece tirando suas roupas, teremos uma noite quente juntos, ou melhor, em trio – ele riu sarcástico.
-O que? – respondi em protesto. Eu havia entendido o que eles queriam, mas não acreditava que estava prestes a fazer isso.
-Isso mesmo, vai ficar com a gente, sexo entende? Se fizer isso e nos satisfazer pode ir embora.
-Vocês me deixam ir embora?
-Sim, é só você fazer tudo certinho que no final irá embora com o seu feto ainda vivo.
-Ok, eu aceito – disse por fim e as lágrimas rolaram mais uma vez, aquilo soaria loucura a todos que ouvissem, de certa forma ninguém entenderia, só sabe o que é isso quem já teve o prazer de ser mãe. Pelo meu filho estava disposta a fazer tudo, inclusive me deitar com esses nojentos. Eu sabia que a partir do momento que ficasse com eles minha vida com Micael estaria definitivamente “acabada”, ele não me aceitaria de novo, mas pelo menos estaria com nosso filho. Não me julguem, nunca julgue quem rouba um prato de comida para dar ao filho, nunca julgue quem rouba agasalho para aquecer seus pequenos, nunca julgue uma mãe, porque isso é sentimento forte, por um filho a mãe faz tudo, tudo e tudo. Micael me odiaria pelo resto da vida, eu nunca mais teria minha vida normal, sentiria nojo e repulsa do meu corpo pelo resto dos meus dias, não me olharia no espelho durante anos, mas pelo menos veria meu filho sorrir, e isso valia toda a dor do mundo.
-Pode começar então – Ele disse fazendo com que meus pensamentos fossem embora. Eu não sabia ao certo o que fazer e como começar. Eu apenas me levantei e tentei me colocar em pé, minhas pernas tremiam e minhas mãos soavam, tentei me concentrar, mas tava quase impossível, foi nesse momento que comecei a me despir.
-Só não me machuquem. E não machuquem meu filho – repetia de olhos fechados enquanto abria os botões da minha blusa – Não machuquem meu filho, meu filho….
-Vai ficar tudo bem – ele dizia sorrindo me “comendo” com os olhos – Corpo lindo você tem.
-Mamãe ta fazendo isso por você – sussurrei com as mãos na barriga – Seu pai vai me odiar pelo resto da vida, mas você merece o esforço.
-Isso mesmo – ele me incentivava. Então tirei a blusa, faltava à saia, mas algo me travava. Vê-los em minha frente me causava tanto nojo que era capaz de vomitar por horas. Dentro de mim pedia aos céus uma ajuda, alguma coisa, não podia terminar aquilo, tava difícil demais pra mim. Foi quando um deles me tocou e disse que iria me ajudar, nesse momento chorei horrores, a mão dele ia por detrás e me acariciava lentamente. Nesse momento eu só desejei Micael, e meu pedido fora atendido porque ouvi a porta se arrombar.
-LARGUE ELA AGORA SEU NOJENTO – Disse a voz firme do meu amado, reconhecia aquela voz de longe, a quilômetros, reconheceria mesmo que todos os meus sentidos não funcionassem, reconheceria ele até de outro planeta, de outra dimensão, de outra vida, porque a gente sempre reconhece quem de fato nos pertence. Bastou ouvir aquilo e logo depois vi um dos caras cair no chão pelo soco que Micael havia dado. Sim, meu príncipe tinha chegado.
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